O estudo de dezenas de casos globais e a experiência de duas décadas de implementação da Trilha Transcarioca, na cidade do Rio de Janeiro, possibilitou um movimento de tirar do papel diversos projetos de trilhas no Brasil. Com o apoio da Coordenação-Geral de Uso Público do ICMBio, as Trilhas de Longo Curso ganharam reconhecimento legal por meio da publicação da Portaria Conjunta (MMA/MTur) nº 407, de 19 de outubro de 2018, que instituiu a Rede Nacional de Trilhas de Longo Curso e Conectividade – Rede Trilhas.
Em agosto do ano seguinte, durante o Congresso Brasileiro de Ecoturismo e Turismo de Aventura em Ilhabela – SP, foi empossada a primeira Diretoria da Associação Rede Brasileira de Trilhas, movimento da sociedade civil organizada que passou a coordenar formalmente as ações de todos os grupos voluntários responsáveis pela montagem, sinalização e manutenção das trilhas que formam a Rede.
Atualmente, a Rede já conta com mais de 70 trilhas sinalizadas com as pegadas amarelas e pretas, que já contabilizam mais de 10 mil quilômetros de trilhas em implementação nos seis biomas brasileiros.
As Trilhas de Longo Curso fortalecem cada iniciativa de ecoturismo ao longo do seu território, possibilitando a criação de mais equipamentos públicos de lazer e recreação. Oportunizando o contato das pessoas com o ambiente natural e todos os benefícios para a saúde física e mental, que é obtida por essa experiência, já amplamente descritas em literatura.
Elas colaboram no desenvolvimento do turismo local, uma vez que criam um ambiente de cooperação e conexão entre os diferentes atores, proporcionando a melhoria dos serviços. Ou seja, As Trilhas de Longo Curso funcionam como excelente ferramenta e criação de produtos turísticos. Conectando diferentes atores do trade turístico em prol de um objetivo comum.
O fato da organização civil estar na coordenação das trilhas possibilita que o produto turístico se fortalece e se efetive no território. O apoio das organizações públicas de diferentes esferas e empresas privadas locais fortalece o processo de transformação dos atrativos em produto e contribui de forma significativa para a consolidação da Trilha como produto turístico.
Com a consolidação do ecoturismo, é esperado uma maior valorização dos recursos naturais ao longo do percurso. Que possibilita a criação de um corredor ecológico importantíssimo entre as áreas protegidas conectadas pelas trilhas. Onde destacamos as trilhas como poderosas ferramentas de conservação ambiental, uma vez que elas possibilitam a conservação da diversidade biológica e cultural além dos limites das unidades de conservação.
Como desdobramento desse contato mais íntimo das pessoas com a natureza, a sensibilização ambiental da sociedade é promovida por meio das Trilhas de Longo Curso, que passam então a serem encaradas como legítimos equipamentos de educação ambiental, onde cada vez mais os elementos naturais e culturais são valorizados pela população. E com a qualificação dos serviços de apoio ao usuário da trilha, essa experiência ao ar livre é cada vez maior e cada vez mais qualificada, potencializando ainda mais a função das Trilhas de Longo Curso como ferramenta de sensibilização e educação ambiental.
Cada uma dessas trilhas possui relevante função de conectividade de paisagens naturais, além de oportunizar a recreação das pessoas em contato com a natureza, qualificando cada vez mais o turismo no Brasil. É fundamental que tenhamos cada vez maior proteção dos ecossistemas e a sociobiodiversidade local cada vez mais valorizada. Inclusive vale destacar aqui que a sociobiodiversidade é sem dúvida um elemento de destaque nas Trilhas de Longo Curso na região amazônica.
A conectividade entre áreas protegidas possivelmente é a maior contribuição das Trilhas de Longo Curso para a proteção dos ecossistemas em todo o mundo. Muitos habitats naturais que eram quase contínuos foram transformados em manchas isoladas. A supressão da floresta pela expansão das atividades agropecuárias, a dificuldade no ordenamento áreas rurais e urbanas e os grandes empreendimentos são algumas das principais causas de fragmentação de ambientes. O resultado disso é uma série de perdas de serviços ecossistêmicos prestados.
O aumento de efeito de borda e o isolamento de populações que perdem o poder de migração e dispersão geralmente dificultam a troca gênica e favorecem o declínio populacional. Mesmo em áreas especialmente protegidas, a falta de conectividade com outras áreas dificulta a troca genética com outros espécimes e induz à extinção local de algumas espécies menos resilientes.
O Brasil possui uma grande malha de áreas protegidas, concebida, por meio da Lei do SNUC, para ser gerida como um Sistema, onde as unidades de conservação têm posição de destaque. Entretanto, a fragmentação de ambientes é um dos maiores desafios da gestão ambiental no Brasil, pois, além dos efeitos nefastos já citados, tornam a malha mais próxima de um conjunto do que de um sistema, induzindo a gestão individualizada de cada área protegida. Nesse sentido as TLCs têm um papel estratégico como ferramenta de conectividade, contribuindo para o funcionamento sistêmico da malha.
A presença de unidades de conservação geridas por distintas esferas administrativas é importante na medida em que se pretende institucionalizar o Projeto de TLCs como um projeto plural em que todos os envolvidos possam desenvolver um sentimento de “pertencimento à causa”. As TLCs são, então, uma oportunidade de exercitar a integração entre a União, os Estados da Federação e as Prefeituras Municipais, o que é, sem dúvida, um dos desafios da gestão pública no país.
A presença das Trilhas devidamente implementadas possibilita a manutenção de corredores ecológicos/conectores de paisagens que permitem o deslocamento de fauna silvestre ao longo de seu território. A manutenção dessas áreas com seus aspectos ainda naturais é a grande contribuição das Trilhas para a conservação ambiental. Sua preservação é geralmente assumida por voluntários locais em colaboração com o poder público. Normalmente, em função da geração de renda produzida pela atividade turística ao longo do caminho, empresários locais também contribuem com a implementação e manutenção de TLCs.
As TLCs já cadastradas na Rede Brasileira de Trilhas se distribuem nos seis biomas existentes no país, Mata Atlântica, Cerrado, Pampas, Caatinga e Amazônia e Pantanal. Elas estão presentes em centenas de municípios distribuídos em 21 estados brasileiros e no distrito federal (RS, SC, PR, SP, RJ, ES, MG, MS, MT, DF, GO, TO, BA, SE, AL, CE, PI, RO, RR, PA, AC e AM).
Essa conectividade gerada pelas Trilhas de Longo Curso como ferramenta de conservação fortalece principalmente as áreas especialmente protegidas. Inclusive, a Lei 9.985/2000 que cria o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, tem como um de seus objetivos, justamente favorecer condições e promover a educação e interpretação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico. Elementos basilares do conceito de Trilhas de Longo Curso.
Em total alinhamento aos princípios que regem a agenda de áreas protegidas, a Rede Brasileira de Trilhas, em 2019, se manifestou oficialmente em favor da criação do Monumento Natural da Mantiqueira Paulista, nos municípios de Cruzeiro e Piquete, SP, durante Audiência Pública em processo de possível criação da UC de Proteção Integral. O Pico Itaguaré (em Cruzeiro) e o Pico dos Marins (em Piquete), incluídos na proposta do MONA, são pontos estratégicos no traçado da Trilha Transmantiqueira.
Vale destacar que um dos princípios do SNUC é a “busca de apoio e a cooperação de organizações não-governamentais, de organizações privadas e pessoas físicas para o desenvolvimento de estudos, pesquisas científicas, práticas de educação ambiental, atividades de lazer e de turismo ecológico, monitoramento, manutenção e outras atividades de gestão das unidades de conservação;” e as TLC são uma oportunidade de fortalecer essa relação entre os diversos atores desses territórios.
O ato de sinalizar um caminho, indicando a direção correta a seguir, é bem antigo na história da humanidade. Peregrinos na Europa, índios e bandeirantes no Brasil já se utilizavam de marcações em pedras e árvores para atingirem seus destinos.
Atualmente, depois que Unidades de Conservação mundo afora adotaram as trilhas como aparelho de recreação e educação ambiental, a sinalização das mesmas tornou-se imperiosa, a fim de se cumprirem dois objetivos básicos:
• Segurança, indicando a direção precisa ao caminhante, evitando que se perca.
• Preservação do meio ambiente, facilitando ações de manejo, tais como: evitar processos erosivos, criação de atalhos ou pisoteio de áreas sensíveis a fim de recuperar nascentes, etc.
Na Europa as trilhas são sinalizadas desde antes do Império Romano, quando ainda eram destinadas ao trânsito de pessoas e cargas. As trilhas em parques são sinalizadas desde a criação do primeiro parque nacional do mundo, o Yellowstone, em 1876.
A sinalização pintada em árvores é usada na Europa, EUA, Canadá e Austrália, além da maioria dos outros países, dentro e fora de Parques Nacionais inclusive Patrimônios Mundiais da Humanidade (Everglades, Yosemite, Table Mountain, etc).
A sinalização é parte fundamental do processo de implementação do projeto, sendo objetivo da Rede que as Trilhas de Longo Curso sejam sinalizadas de forma muito clara e intuitiva. Ou seja, a exemplo das rotas de longo curso mais bem sucedidas do mundo, como a Appalachian Trail e o Caminho de Santiago, devem estar preparadas para receber o visitante que ainda não conhece o caminho, sem a necessidade de um guia local.
Para lograr esse objetivo, a Rede Brasileira de Trilhas segue o padrão internacional de “sinalização rustica”, simplesmente pintando com pegadas sinalizatórias árvores, postes, pedras e qualquer elemento natural ou artificial ao longo da trilha, de forma que a sinalização fique bem clara. A estratégia foi amplamente adotada e, a exemplo de outras partes do mundo, vem funcionando muito bem no Brasil. A Rede trabalha continuamente para melhorar a estratégia de sinalização, tão importante para o sucesso de todo o projeto.
Segundo os padrões da Rede Brasileira de Trilhas, cada Trilha tem uma identidade visual única, que lembra uma pegada, sempre nas cores amarela e preta, o que possibilita a melhor visualização da direção a seguir, além de ser muito intuitiva, conduzindo bem o caminhante ao longo do percurso e padronizando todo o sistema de trilhas. A estratégia leva ainda ao fortalecimento da identidade da própria Rede Brasileira de Trilhas, pois o logotipo de cada trilha individual remete a todas as trilhas do país, criando dessa maneira uma marca turística “Trilhas do Brasil”, facilmente promovida por órgãos do setor como a Embratur.
Parte fundamental do processo de criação da Rede Brasileira de Trilhas de Longo Curso, a sinalização das Trilhas é realizada sempre de forma muito clara e intuitiva. Neste sentido, a Rede Brasileira de Trilhas segue o padrão internacional de “sinalização rustica”, simplesmente pintando com pegadas sinalizatórias em árvores, postes, pedras e qualquer elemento natural ou artificial ao longo da trilha, de forma que a sinalização fique bem clara.
Seguindo os padrões estabelecidos pela Rede Brasileira de Trilhas, cada Trilha tem uma identidade visual única, que lembra uma pegada, sempre nas cores amarela e preta, o que possibilita a melhor visualização da direção a seguir, conduzindo bem o caminhante ao longo do percurso e padronizando todo o sistema de trilhas. A estratégia fortalece a identidade de cada uma das trilhas e a identidade da própria Rede Brasileira de Trilhas, pois o logotipo de cada trilha individual remete a todas as trilhas do país, criando dessa maneira uma marca turística “Trilhas do Brasil”, facilmente promovida por órgãos do setor como a Embratur.
O Processo de sinalização é simples e pode ser executado com poucos recursos financeiros, possibilitando que grupos de voluntários implementem a sinalização rústica da trilha. Esse trabalho já possibilitou a sinalização e estruturação que já soma mais de 2.600 km em trilhas localizadas em todas as regiões do país.